24.3.08

Derrota melancólica

Neste domingo, dia 23/03, como sempre, quando um time está a muito tempo sem perder, essa invencibilidade se vai numa goleada: mas não precisa ser aplicada por um time de qualidade duvidosa num jogo em que nós abusamos do direito de errar e entregar os gols... Nem tiro de meta acertamos... Resultado derrota para Lucrécia, na casa deles, por 6 x 2 (nossos gols: João Paulo e Márcio). Jogamos com: Dédé (Alan); Daco, Vanvan (Nilo), Paulo, João e Uelinton; Francisco, Dawelton (Márcio), Ratinho, João Paulo e Marcos Paulo (Tércio).

Vitória na minha ausência

Durante minhas "férias" o AAA Chapadão jogou em casa, no dia 16/03, contra a equipe Caraíbas (Umarizal/RN) e venceu por 5 x 2. Mais detalhes em breve.

4.3.08

Eu fui! Up the Irons!!

Há 23 anos, o mundo ainda vivia a Guerra Fria. O Brasil saía da ditadura, mas a população ainda não elegia seu presidente. Os computadores engatinhavam e surgia o Windows 1.0 (sim o primeiro). Bem, mas não era só o mundo político e dos negócios que borbulhava. O da música seguia o mesmo caminho. O Slayer lançava “Hell Awaits” e, por outro lado, o Glam crescia em lançamentos como “7800° Fahrenheit”, do Bon Jovi, por exemplo. Mas ainda tinha mais. Em março de 1985 solidificava-se uma das maiores bandas de Heavy Metal de todos os tempos. Com quatro shows esgotados na Long Beach Arena, nos Estados Unidos, o Iron Maiden apresentou o show que resultaria no CD/vídeo “Live After Death”. E não foram apresentações quaisquer, tornando-se reconhecidamente uma das maiores turnês da história. Tanto que, 23 anos depois, aquela mesma banda inglesa, praticamente idêntica à de 1985, parou São Paulo.

Os paulistas aguardaram por um bom tempo pelo grupo, já que desde o ano passado os ingressos começaram a ser vendidos e rapidamente se esgotaram. Não era para menos, uma vez que os sedentos fãs da Donzela poderiam acompanhar não uma turnê qualquer, que apresentaria o recente disco “A Matter of Life And Death”, mas um show especial, contando apenas com clássicos da banda. A inspiração foi o set do “Live After Death” somando músicas do “Somewhere in Time” e do “Seventh Son of a Seventh Son”.

Enfim, passaram-se os mais de três meses. Tarde de domingo ensolarada em São Paulo, dia 2 de março. O sexteto já havia causado frisson desde a chegada, dois dias antes, com Bruce Dickinson pilotando o Ed Force One, avião que está transportando a banda na “Somewhere Back In Time Tour”, e, no sábado, com um jogo de futebol em que só Steve Harris, baixista e fundador da banda, esteve presente. Mas isso era apenas um aperitivo. No domingo, um público de cerca de 40 mil pessoas lotou o Parque Antarctica para ver mais uma vez esta lenda do Metal.

Antes do êxtase, um tempinho para a banda de abertura, ninguém menos que a filha de Steve Harris, Lauren. Quem pensa que a garota começou sob as asas do pai se engana. Ela estreou em clubes londrinos e foi descoberta por um empresário que não sabia de sua origem, antes de passar a abrir os shows do Maiden – seu primeiro disco, “Calm Before the Storm” deve sair este ano. Bem, pode-se dizer que Lauren se esforça bastante no palco. A bela inglesa corre, balança os cabelos pretos, canta, faz caras e bocas e tudo mais. Infelizmente, em vão. Apesar de o instrumental ser bom, numa levada mais Hard Rock, seus vocais e letras não empolgam e fica aquela sensação de estar ouvindo uma música infantil, boba.

O destaque do seu show, que começou pontualmente às 19 horas e teve músicas como “Your Turn” e “Still Your Fire”, foi o guitarrista Ritchie Faulkner (também do Voodoo Six), que mandou bem nas seis cordas, sempre no maior estilo Zakk Wylde. O público também não deu muita bola a Lauren, preocupando-se mais em salientar suas qualidades físicas do que ouvir sua voz. Ou então em comparar a jovem descalça, de 23 anos, aos integrantes do musical High School Musical...

Apesar de Lauren ser fraquinha, tudo se encaminhava perfeitamente para o grande show. Até que, 15 minutos antes das 20h, o horário previsto, ela veio. E por ela pode se entender a chuva. Torrencial. Para quem estava no aperto, refrescou. Para quem estava tranqüilo foi hora de gritar para espantar o frio. Já os roadies tiveram bastante trabalho, tentando enxugar o palco.

A água não causou atraso. Bem na hora do show, já tinha parado e tudo estava liberado para, agora sim, encaminhar-se à perfeição. A parada da chuva foi exatamente quando “Doctor, Doctor”, do UFO, rolava nos PAs. Sinal de que tudo estava pronto. Com as luzes apagadas, um rápido documentário mostrou um pouco da atual turnê do Maiden, focando no Ed Force One, sob o som da instrumental “Transylvania”. Mas, quando a voz de Winston Churchill ecoou em seu tradicional discurso, todos sabiam o que esperar. Nada melhor para abrir o show do que “Aces High”, tal qual aconteceu no “Live After Death”. A faixa, uma das mais rápidas e pesadas da Donzela levou o público ao delírio. O difícil foi ver e ouvir a banda, já que a galera não parou de cantar e pular por um segundo.

No palco, seis cinqüentões: Steve Harris (baixo), Bruce Dickinson (vocal), Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers (guitarras) e Nicko McBrain, sendo que apenas Gers não estava naquela famosa série de shows. A energia não mudou desde aqueles tempo e parece que, por estarem tocando mais uma vez no Brasil, palco de seu maior público (300 mil pessoas no Rock In Rio de 1985, justamente na “World Slavery Tour)”, foi maior ainda que o normal. O sexteto esbanja animação, cada um à sua maneira. Com o palco molhado, quem se divertiu como uma criança foi Dickinson. O vocalista/piloto deslizava pelo palco, escorregando por ele com sua calça de retalhos, blusa de guerra e gorro.

Depois do primeiro grito “Scream For Me Brazil!”, respondido pelos 40 mil fãs encharcados no estádio, mais um clássico do “Powerslave”, que nunca falta nos shows, “2 Minutes to Midnight”. Antes disso, Dickinson brincou ao microfone. Para ele, todo aquele aguaceiro fora obra de deus “mijando” sobre São Paulo. “2 Minutes...” também levantou os fãs e os preparou para uma faixa que era esperada a tempos, “Revelations”, do Piece of Mind (1983). Esta música, simplesmente histórica, foi uma das que melhor mostrou como as três guitarras fizeram bem ao grupo. A mudança é discreta, mas numa faixa complexa como esta, Gers, Murray e Smith fazem um trabalho sensacional – à época do “Live After Death”, “Revelations” contava com Dickinson ajudando no dedilhado do refrão, dando uma de guitarrista. A qualidade do som, que só falhou algumas vezes no microfone de Dickinson, ajudou, deixando bem limpos todos os instrumentos.

Por falar na seção de cordas, nada mais bonito do que ver o trio de guitarristas reunidos à frente do palco com Steve Harris em “The Trooper”, que tem um dos trabalhos instrumentais mais destacados na discografia dos ingleses. O pano de fundo trazia a tradicional imagem de guerra, substituindo a imagem da atual tour, com três Eddies e temas egípcios, que estava desde o início. Dickinson se vestiu tal qual o “tropeiro”, balançando a bandeira da Inglaterra no espaço suspenso atrás de Nicko McBrain. Por falar no batera, é sempre impossível vê-lo atrás do seu gigante set (predominantemente azul), mas, pelo som, o músico de 55 anos ainda mostra que tem muita lenha para queimar. Detalhe: um cachorrinho “faraônico” era um dos elementos decorativos da batera de Nicko, um piadista de primeira.

No intervalo para a próxima música, Dickinson lembrou o primeiro Rock In Rio, explicando a paixão do Iron pelo Brasil. Já introduzindo a próxima música, disse que ela foi escrita quando eles nunca imaginavam que, duas décadas depois, ainda estariam se apresentando para grandes audiências. Era a deixa para uma das composições mais emocionantes do grupo, “Wasted Years”, do “Somewhere in Time”. A galera foi ao delírio, seja pulando na(s) pista(s) ou nas arquibancadas. É impossível não destacar Adrian Smith, autor da música e um ícone nas seis cordas, sempre com um solo perfeito para o momento, cheio de feeling.

E quando Harris e Murray ficam lado a lado e uma voz grave começa a ecoar no estádio, todos já sabem o que esperar. Era hora de “The Number of the Beast”, mais um clássico absoluto, em que sempre se destaca a guitarra de Murray e suas caras e bocas durante seus velozes solos. Dave, um verdadeiro braço-direito de Harris, distribuiu sorrisos e não aparentou se cansar de tocar a faixa depois de 25 anos. Se depois de três décadas de Iron Maiden os fãs acham que já viram tudo, um fato cômico estava por vir. Como o palco ainda tinha muitas poças, alguns roadies tentavam deixar tudo seco. Bruce simplesmente pegou o rodo da mão de um deles e começou a ajudar na limpeza e brincar – com certeza mais atrapalhou que ajudou os coitados, mas teria volta...

A primeira faixa do “Seventh Son...” foi “Can I Play With Madness”, sempre bem recebida e que esteve no setlist na última passagem da Donzela pelo Pacaembu, há quatro anos, na turnê do “Dance of Death”. Até então, o show já se tornava histórico, mas tinha como ser ainda mais na próxima canção. Enquanto Dickinson discursava seriamente sobre a letra de “Rime of the Ancient Mariner”, relacionando-a com o aquecimento global, os roadies retornaram para secar o chão e o vocalista levou uma “enxugada” de dois deles antes de apresentar de fato a música.

Bruce Dickinson apareceu no fundo do palco com uma capa preta, sempre interpretando as letras, frente a um pano de fundo específico para “Rime...”, que fez do palco um navio. A complexidade e as linhas de guitarra e baixo provam a qualidade de Steve Harris. Se no palco ele dá o sangue, cantando todas as letras e “metralhando” os fãs com seu baixo, é principalmente nas salas de ensaio e no estúdio que Harris fez do Iron Maiden o que é. Tanto que assina este épico de 13 minutos, com uma das melhores letras, muitas variações e algumas das linhas instrumentais mais memoráveis da banda. Nem é necessário tentar explicar a reação da galera, que fez um show na parte central da música, lentinha, acendendo celulares e isqueiros e iluminando o Parque Antarctica. Nicko é que fez a festa neste trecho, já que é quando teve a oportunidade de “brincar” com o seu enorme gongo atrás da bateria.

Para completar o momento, “Powerslave” trouxe um mascarado Dickinson ao palco, tal qual acontecia há 23 anos. O que mudou neste tempo, por incrível que pareça, foi na qualidade. Os cabelos curtos e as rugas não escondem em nada que, com o passar dos anos, Bruce evoluiu muito como vocalista e, principalmente ao vivo, é bem melhor do que nos primórdios da banda. Os gritos e agudos parecem não dificultar a vida dele no palco, que segue fazendo suas traquinagens, pulando e correndo para todo canto e, claro, sempre instigando os fãs a gritarem. Falando em traquinagem, é o que mais se vê em Janick Gers, que mais parece um moleque do que um cinqüentão, ao fazer sua guitarra dar voltas no seu corpo, ou tocando o instrumento até com o cabo e solando sempre com elevada dose de displicência, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Já chegando ao fim do set, os sortudos que assistiam à banda puderam acompanhar outros mais sortudos ainda. Eram os roadies e pessoas premiadas por promoções que subiram ao palco para cantar o tradicional coro de “Heaven Can Wait”, iniciada no baixão de Harris. Como sempre, foi uma enorme festa, com o palco abarrotado. Em seguida veio “Run to the Hills”, que deu lugar a uma música dos anos 90 um tanto intrometida num set que abordou apenas os clássicos da década anterior. Mas tudo bem, era o clássico “Fear of the Dark”, uma espécie de bônus que o sexteto resolveu incluir na turnê. Mesmo com reclamações de que a música poderia dar lugar a outras mais raras, ninguém deixou de cantar as melodias regidas por Bruce, que ecoaram no estádio.

Para encerrar a primeira parte, nada melhor que “Iron Maiden”. O pano de fundo com a capa do “Somewhere in Time” já adiantava: era hora de Eddie brincar. E o mascote gigante entrou no palco com uma “arma” na mão e seu visual futurista, inspirado na temática do disco, e logo foi fazer graça com Janick Gers e Dave Murray.

Depois de uma pausa, o pano de fundo foi trocado, trazendo um Eddie mais misterioso. “Moonchild”, faixa que abre o álbum “Seventh Son...”, começou com uma brincadeira. Bruce começou a cantar e deixou para a galera, que completou. O vocalista se divertiu e repetiu a dose, com Murray no violão, e a música enfim seguiu. Presenteado com uma bandeira brasileira, Steve Harris a colocou sobre uma caixa de som, homenageando o país. O baixista introduziu a penúltima música, “The Clarvoyant”, do mesmo disco, que tem um refrão dos mais contagiantes, antes de outro mega-clássico colocar fim às duas horas de apresentação. “Hallowed Be Thy Name” despensa apresentações. Enquanto o quarteto de cordas mais uma vez se reunia à frente do palco, o restinho de energia que os fãs ainda tinham se esvaía na derradeira canção.

Vale lembrar das promessas de um emocionado Bruce Dickinson ao fim do show. Após elogiar o público e afirmar que foi uma grande noite, ele prometeu que em menos de um ano os brasileiros poderão assistir novamente à Donzela de Ferro. Para esta nova apresentação, a banda traria o set completo – maior que o desta vez e com direito a explosões – e que deve fazer parte da turnê do “A Matter of Life and Death”, que não passou pelo Brasil. Um a um, os integrantes deixaram o palco. Nicko, como de costume foi o último, pegando o microfone para agradecer aos presentes.

Depois de duas horas (em 2004 o show teve apenas 1h30), os paulistas não tiveram do que reclamar com o Maiden no palco. O porém fica por estratégias da organização, como a de montar uma pista “especial”. A medida só divide o público e não tem outra intenção a não ser faturar em cima dos fãs. Uma pena...

Depois de 23 anos da turnê que trouxe o Iron ao primeiro Rock in Rio, é visível que a banda só melhorou. Tal qual um bom vinho, amadureceu e com o passar dos anos cresceu a olhos vistos. Independentemente de a banda ainda compor e gravar, pela turnê ainda fica claro que os “golden years” de que fala “Wasted Years” não serão esquecidos pelos headbangers. Ainda faltou um pouco de coragem no set list. Faltou ousadia para colocar sons inéditos, como “Alexander the Great”, ou raros, como “Caught Somewhere in Time”, por exemplo. Mas nem com muito esforço Steve Harris e Cia conseguiriam fazer um show ruim.

2 de março marcou história em São Paulo e assim deve ser dois dias depois, em Curitiba, e dia 5, em Porto Alegre. Os fãs antigos puderam relembrar os melhores momentos da Donzela em versões até melhores do que as de antigamente, enquanto os novos, que nem tinham nascido no auge da banda, puderam saber qual é o peso do Iron Maiden num palco. Simplesmente histórico. E quem perdeu? Pois é, perdeu…

Set List:
Intro - Churchills Speech
1. Aces High
2. 2 Minutes To Midnight
3. Revelations
4. The Trooper
5. Wasted Years
6. The Number Of The Beast
7. Can I Play With Madness
8. Rime Of The Ancient Mariner
9. Powerslave
10. Heaven Can Wait
11. Fear Of The Dark
12. Run To The Hills
13. Iron Maiden
[bis]
14. Moonchild
15. Clairvoyant
16. Hallowed Be Thy Name

Formação:
Bruce Dickinson – vocal
Adrian Smith – guitarra
Dave Murray – guitarra
Janick Gers – guitarra
Steve Harris – baixo
Nicko McBrain – bateria


Fonte: Whiplash http://whiplash.net/materias/shows/069813-ironmaiden.html